QUASE NATAL SÉCULO XXI
Joaquim Moncks
O poema nasce matutino,
com sono, tirando remela dos olhos.
Penteia cabelos, escova dentes.
Há um ázimo pão no céu da boca.
O espelho denuncia a aurora glacial
das incompreensões.
O sal do choro
crivou a lágrima amanhecida
de explicações e lamúrias.
Amores fartos, ágeis de memórias,
nunca são lúcidos à hora da posse.
Jesus Cristinho amado,
deixai que cantemos desamores.
O coração está pleno como dantes
e a órbita do mundo soluça
jingle bells como um terçol.
Bom-dia, Dona Paciência,
locupletem-se os pendores!
É inventário dos que amam.
– Do livro BULA DE REMÉDIO, 2005/2009.