terça-feira, 8 de novembro de 2011

PÁTRIA: VARIAÇÕES SOBRE O TEMA

Joaquim Moncks

Desvirgino o verso como quem sabe dos segredos. Pátria é essa amada alma
em que mora a inocência. A pretensa liberdade se autodesenha: alegre dama da noite, nos cubículos, nas favelas. É o fanal doido, que mesmo triste, inscreve arabescos por onde passa. Motivos somos nós, cristais espargindo sombras: esmeraldas foscas, auriverdes do nada. O aquário em que se aprende a nadar... Pátria ainda é a trincheira dos encontros. Cantemos!

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/3291841
CONVITE À REORDENAÇÃO DO CAOS

Joaquim Moncks

O que é esse fruto transfigurado da matéria da vida a que chamamos Poesia? O que é essa voz que nada tem de diletante, e sim, é o pedido mais fundo de socorro? A Poesia desacomoda os acomodados de plantão, esses tristes súditos das bênçãos de Deus. O Bem e o Mal estarão juntos, como sempre, mas a vida jamais será a mesma. Vem, junta-te a nós! E engole uma nesga desse sol...

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/3291202
A CANÇÃO DOS DIAS

Joaquim Moncks

Na permanente canção do tempo nem o temor das perdas amedronta. Sou daqueles da insólita rota: os que ainda fiam-se na esquina próxima, mesmo que cansados de expulsar demônios em seus rotos vestidos angelicais... O que sei de mim se estou de olhos roxos, fumaça criando vultos de ausências? Fogem do cais maduro oxigênios do rio escuro, apenas peixes luminosos. Empolgado de luas, chora o violão: passaporte pra desenhar iluminuras. Dentro de nós, o espírito cochicha a canção das estradas, olhos fitos no conto-esperança. O que teremos visto – em verdade – após o dia seguinte?

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/3292781
CARTA ABERTA SOBRE LIVROS

Joaquim Moncks

Neida Rocha, ativista cultural e estimada amiga!

Em primeiro lugar, peço vênia para estender estas palavras de agradecimento e louvação ao escritor/editor Milton Pantaleão, da Editora Alternativa, de Porto Alegre.

Muito grato por tua manifestação em relação a mim e ao Jorge Braga, que atuaremos no projeto “CONVERSA SOBRE LIVROS”. Ambos estamos muito felizes por virmos ser recebidos na "Bibliotheca Pública de Pelotas” – instituição tradicionalíssima na cidade – justo para falar sobre o que gostamos: LIVROS e suas trajetórias. Creio que não decepcionaremos o público eventualmente presente, mormente aos jovens, que – creio – esperam de nós um depoimento detalhado de como vemos o nosso ofício de escriba e o produto decorrente de nossos esforços, dispêndio de dinheiro e zelo para com a memória de um povo que pouco se achega aos livros, em geral.

Ressalte-se que a Biblioteca de Pelotas é uma associação de direito privado desde a sua fundação, em 1875.

Escrever, no Brasil, é um ato de amor cívico. Pouco se ganha, com as vendas – em regra – para totalizar o pagamento da edição. E o mecenato público e privado é precaríssimo, ainda mais para escritores novatos. O seu autor acaba fazendo BENEMERÊNCIA para livrarias, meios de comunicação social, instituições culturais e um sem número de cortesias para os afetos... Todavia, o autor ganha milhares de admiradores, em que alguns se tornam AMIGOS em razão do gesto benemerente, carinhoso, nem sempre pelo teor e conteúdo da obra...

Estamos em efetivo enfrentamento para que o dado precário de 3,8 livros/habitante/ano, no Brasil como um todo, seja superado. Mercê do auspicioso registro de que o povo gaúcho lê mais do que a média nacional: 5,6 livros/habitante/ano, conforme estatísticas de 2006. Segundo informações extra-oficiais e não confirmado o método estatístico, já teríamos superado o índice de 6,5 livros/habitante/ano, no RS, em 2011.

Tudo isso graças aos esforços de associações privadas fomentadoras da leitura. Os órgãos públicos pouco fazem, no geral, exceção feita ao Ministério da Cultura, que detém o grosso das verbas públicas específicas, dando primazia a projetos culturais de publicação provindos de órgãos públicos e privados que gozam de influência na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura – CNIC. Os proponentes avulsos que se lixem: o Ministério aprova o projeto referente ao pedido de verba para a publicação, porém a carta de crédito terá de ser “vendida” ao empresário no jogo do mecenato. O autor acaba perdendo o prazo de captação e se esvai a possibilidade...

Quanto à Coletânea “JOAQUIM MONCKS & AMIGOS”, é preciso que o homenageado deponha para a história: o livro é uma das melhores obras cooperativadas lançadas no RS, nos últimos 40 anos, homenageando um único autor – em que cada figurante indeniza a sua participação, antecipadamente à editoração – com alto ônus pessoal, portanto. Baseio-me na preciosa apresentação estética, qualidade gráfica e esmerada confecção editorial. Também pelo expressivo número de autores que a compõem, que totalizam 155 (cento e cinquenta e cinco) condenados ao pensar, em prosa e verso.

Quanto à qualidade de texto, bem, este deixemos à consideração do receptor. Cada leitor terá, por certo, sua opinião sobre a obra coletiva. Porém, nela, há um belo registro das atuais concepções formais e estéticas quanto ao verso e à prosa curta. Um documento importante para a história da literatura rio-grandense e nacional.

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/3293466
A PALAVRA COMO PROPOSTA

Joaquim Moncks

Recebo o escrito abaixo, com a bonomia da autora e o pedido de análise. Vamos lá. Comecemos pela escansão dos versos:

“O IPÊ ROSA

A/bre/-se o/ di/a/, ma/dru/ga/da/fria / 10
Da/ mi/nha/ já/ne/la a/d/mi/ro a es/tu/pen... da / 10
O/bra/ que a/ na/tu/re/za o/fe/re/cia: / 10
A/ flo/ra/da/ do i/pê/ co/mo u/ma pren... da. / 10

Bu/quês/ ro/sa/dos/ ex/plo/din/do eu/ via / 10
Bri/lhan/do,/ que or/na/vam/ a ar/vo/re/ de/ ren... da. / 10
Tão/ be/los/ que o/ pre/to/ ga/lho es/con/dia. / 10
São/ tan/tas/ flo/res/ vi/bran/do em/ o/fe/ren... da! / 11

Nos/ o/lhos/ bri/lha a/ luz/ en/can/ta/do...ra! / 10
Pá/ssa/ros/ fe/li/zes/ em/ re/vo/a... das... / 10
Na/ do/ce/ bri/sa/ das/ ma/nhãs/ a/fo... ra... /10

Mi/nha/ be/la ár/vo/re, ho/je es/ta/ ro/sa... da... / 10
Com/ flo/res,/ que a/ma/nhã/ se/rão/ pi/sa... das /10
Pra’/ quem/ tal/vez,/ nem/ te/ viu,/ na/ cal/ça... da. / 10

Elisa Alderani, via e-mail, em 24/10/2011.”.

Poetamiga! Trata-se de um bom exemplar em forma fixa, porém nada em especial ou originalidade a olhos vistos. Um SONETO bem exposto, o formato tradicional dos quatorze versos, desde a sua fixação, aos tempos de Petrarca. Vão lá mais de setecentos anos. Ainda sem o estrambote acrescido por Shakespeare e outros, que tornou diferenciado o modelo e foi escassamente usado. Pela escansão (anotações acima), constata-se uma imperfeição de silabação fônica no quarto verso do segundo terceto. É o que chamamos “verso do pé quebrado”... O conteúdo é escorreito para a proposta sugerida no título da peça. Conta a historieta de uma árvore plena de beleza ao tempo da floração. Trata-se, em verdade, de uma croniqueta (crônica breve) escrita em versos, como era de costume na velha escola clássica, já de há muito sucedida pelo modernismo, expressão formal da contemporaneidade, conformado no POEMA. Este, nos dias atuais, é o fruto materializado e predominante na Poesia da contemporaneidade... Aqui, retomada a linguagem do início dos anos XX, no Brasil, e as experiências de formato e proposta lírica, pouco sobra para o receptor em termos de SUGESTIONALIDADE e TRANSCENDÊNCIA, que são características da boa poesia de todos os tempos, em qualquer forma, formato ou corrente. Veja-se que a autora optou pelo comparativo (no quarto verso do primeiro quarteto), em oposição ao comparativo abreviado a que chamamos METÁFORA, que é o mais usual tropo ou figura de linguagem. Sem estas, não há a falar em Poesia como gênero literário. São versos – sim – mas, ao rigor metodológico, ausente está a Poesia como expressão de beleza estética. No texto, apresentado em versos, há rarefeita Poesia como expressão lingüística em sentido CONOTATIVO. Note-se que toda a exposição verbal é em sentido DENOTATIVO, ausente o mergulho (verticalidade da Poesia) em profundidade do ser e proposta de reflexão. Resta aparente o feeling (o sentir do eu poético) do autor frente ao objeto de seu foco sensitivo. O que sobra é a construção versificada, sem pretensão de transfiguração da matéria da vida. Até porque a Poesia não se destina a agir diretamente no plano da realidade. A obra ora sub examine está prenhe de doçura, e isso a faz parecer Poesia... O sentir feminino – mais do que o masculino – tem esse condão: o possesso dulçurismo... Faço a presente avaliação crítica como peça autônoma – no gênero Poesia – em termos de teoria literária e experiência pessoal. Sei que este soneto foi premiado em concurso literário, o que por certo, lhe deu alce e preferência, tendo em vista o conjunto poético apresentado à comissão avaliadora de tal certame. Textos vários e avaliadores que não sei quem são e nem cogito os seus patamares de experimentação. Para sua especificidade e azo, a obra “O IPÊ ROSA” cumpriu finalidade como peça estética, tanto é que restou premiada em primeiro lugar.Congratulações à autora, e que o estro de sua lavra lhe possa premiar muitas outras vezes, em concurso ou não; eis que o maior prêmio – ao meu inferior modo de ver – é a confraternidade da linguagem universal que o poema contém como palavra e traduz como proposta. Parabéns! E que venham muitos poemas... Com o apreço do poetinha JM.

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3295597
O VICIADO

Joaquim Moncks

Mais do que a camisa-de-força do estar vivo, havia um elemento no ar: a agonia de perceber o coletivo com o indiciador em riste, numa das mãos, e o polegar pra baixo, na outra. Tal como na antiga arena dos gladiadores. No deserdado, plasmado por um conjunto de atos e fatos, o mergulho na desesperança do after day. E eis que surge a sirene policial uivando no dorso das ruas...

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/contos/3299483
A CRÍTICA SEGUNDO O AUTOR NOVATO

Joaquim Moncks

Recebo, com alegria, esta interessante mensagem de uma confreira do Recanto das Letras sobre temática que me parece relevante a merece uma reflexão mais funda. Resguardo o nome da interlocutora para evitar mal-entendidos.

“Caro escritor, já tive a oportunidade de ler alguns comentários seus em textos de outros recantistas, e lhe digo que a força de suas palavras, duras e incisivas, me retiram lágrimas. Bom, eu as enxuguei e queria dizer-lhe que, caso um dia você tenha um tempinho e paciência, me sentiria honrada em passar pelo fio de sua navalha. Melhor a dor a sangre frio que passar a vida recebendo pomada anestésica. Ninguém evolui apenas com tapinhas nas costas. Obrigada.”.

– via e-mail pelo site do Recanto, em 27/10/2011.

Causa-me alguma estranheza que alguém se emocione até as lágrimas com uma colocação de análise crítica, ou seja, do mesmo eito ou similar “sentir” de quem lê uma peça poética – em que há a participação da emocionalidade – e daí se pode, naturalmente, entender a origem da contingência capaz de causar a emoção. Porque uma das funções da POESIA é emocionar o receptor. A crítica literária é fruto de análise racional sobre uma proposta emocional – especialmente em textos de iniciantes ou novatos – porque estes ainda se encontram no período em que estão à busca dos elementos estéticos frutos da INTUIÇÃO para confeccionar o conjunto de versos que dará origem ao POEMA... São os NOVE ANOS que Horácio, na antiguidade, dizia que era “para guardar o poema na gaveta”, esperando a sua maturação, para, então, PUBLICÁ-LO... Nesse momento de descobertas das nuances no processo de criação e o seu entorno, o analisado nem consegue ver a análise crítica como ação intelectiva que lhe possa fazer crescer... Neste período inicial, para pessoas muito sensíveis, a Crítica pouco poderá ajudar, até porque o autor não se dará conta de que, mormente no gênero Poesia, não é o EGO quem escreve, e, sim o seu ALTER EGO... E essa linguagem detalhista e metodológica o iniciante ainda não percebeu nem a introjetou, porque simplesmente a desconhece. Fica, apenas, embasbacado com o tal processo de criação poética que lhe produz sensações muito agradáveis, de uma magia prazerosa. Tudo é novo quando se começa a descobrir o mistério das Palavras... Eventual dureza e incisividade nos juízos críticos não são exercitadas com base na Emoção. Em geral, no receptor do estudo crítico – o trabalho técnico sobre a sua peça poética ou prosaica – os juízos analíticos emitidos por quem cumpre o ofício de escritor são entendidos como uma afronta ou interferência no processo pessoal de criação e inventiva, e, usualmente, provocam certa desconfiança ou são pouco considerados. Todavia, daí até provocar o nascimento da “lágrima”, vai uma grande distância. Denota, denuncia e escancara que o criticado é apenas um diletante que escreve para alimentar o EGO e não para a celebração da CONFRATERNIDADE entre os de similar concepção do mundo e de condenação ao pensar. A crítica literária será útil para quem já passou por essa etapa primária do EGO e da necessária chamada de atenção para si como vetor de compulsão criacional ou, ainda, que se utiliza da criação literária como terapia psíquica individual ou grupal, no caso de associação ou grupos literários, objetivando comportamentos variados dos sujeitos envolvidos no processo da Arte X Realidade. Porém, nesse caso específico, o agente propulsor – que funciona como ANTÍTESE – impulsionando a criação e/ou a ação comportamental é o TERAPEUTA e não o OFICINEIRO DE POESIA, como é a minha função no processo. Ou seja, aquele que atua na estimulação da produção do texto em Poesia. A estética do Belo se dá pelo aprimoramento dos elementos que a fazer fluir. A provocação ou a instigação crítica não se confunde com o gesto negligente do “tapinha nas costas”, passivo e cúmplice. Isso é verdadeiro, como bem colocou a missivista... Todavia, este provocar não pode ser tão tétrico a ponto de “passar o autor no fio da navalha”... No processo de aprimoramento literário, a lisonja e a conivência não são métodos propícios ao aprimoramento dos canteiros dos jardins do Belo. Também não é menos verdade que “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”, como fala a sabedoria popular. E essas advertências aplicam-se ao crítico e criticado. E os textos vão, também, amadurecendo para a recepção da ação analítica... Até mesmo quando ainda não tenham nove anos de concepção a fim de poderem voar para além da gaveta...

– Do livro PALAVRA & DIVERSIDADE, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3302490
A INTIMIDADE NOS PERSONAGENS

Joaquim Moncks

Professor, além do comentário que publiquei junto ao texto, gostaria de agradecer sinceramente a postagem do seu trabalho, em http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3302490, contendo “A CRÍTICA SEGUNDO O AUTOR NOVATO”. Aprecio muito a área da literatura Infantil, por isso em meus contos infantis tento trabalhar com as perspectiva da psicologia. Suas palavras me fizeram refletir sobre meu alter ego, ou seja, quais são as mensagens, os valores que implicitamente estou enviando as crianças. Será que nos textos transcrevo valores meus de forma autoritária sob a forma da ditadura das letrinhas pequenas, ao ponto que uma criança tome como verdade algo que poderá não ser o correto, ou seja, a minha verdade? Eu realmente gostaria que meus contos infantis pudessem ter alguma qualidade literária. Não tenho pretensões de ser cronista, contista (adulto) nem muito menos poetisa. Não tenho talento para a poesia, apenas me arrisco com pequenos versos infantis. Essas palavras são maiores e merecem respeito! Rsrsrs. Não que os escritores de livros infantis tenham menor importância, ao contrário. As crianças são leitores com os quais devemos ter muito mais tino, maior sensibilidade em abordar-lhes temáticas porque elas absorvem as palavras como verdades. Bom, professor, hei de ter paciência e sapiência para que a minha cachaça adquira coloração e amadurecimento próprios ao consumo e ao sabor. Obrigada, abraços.

– via e-mail em 28 de outubro de 2011,16h32min. A pedido da missivista, retirei o nome da mesma.

Amada confreira! Já deves ter visto que não me aproprio do vocábulo "professor", pois que viria a ser um esbulho e uma temeridade, visto que tenho, apenas, a ótica do veterano escriba, nada mais. Minha formação é no Direito. Funciono somente como um provocador... Fiquei feliz por haver te instigado à reflexão sobre a condição humana e os seus aspectos psicológicos. Cuida bem de ti, conhece-te mais e mais, e perceberás – clarificadamente – as nuanças originárias de tuas personalidades, imbricadas nos mistérios do EGO e ALTER EGO. Também gosto muito de literatura infantil e mais aprecio, ainda, os autores que a elaboram. São ativistas no esforço de formar leitores, num país que lê diminutamente... As crianças merecem mais do que a nossa geração obteve. Ainda mais agora, com a net, que lhes parece despertar impulsos de comunicação e criam até o seu próprio dialeto de comunicação na Grande Rede: o internetês. Sim, é necessário que o escritor não fuja da condenação ao pensar e à sina de escrever e tenha pretensões ao sucesso... Obrigado por tua contribuição aos meus demônios/anjos escribas. Deste-me o azo de falar com desenvoltura sobre o que observo em tua lavratura, mesmo não te conhecendo mais fundamente como autora, até porque tens poucos textos publicados fora da modalidade CONTOS, sendo que a minha praia é o gênero poético... Quem me fala de ti são os teus personagens, por mais que os recubras com o véu sub-reptício dos signos traduzidos por palavras. Creio que te proteges do intimismo, a fim de que sejamos intelectualmente entendíveis. E, se analisarmos a POESIA, como expressão, iremos constatar que isto ocorre em todo momento: é uma bela maneira de falarmos do EGO sem maiores delongas. “Todo o poeta é um fingidor...”, já disse o grande Fernando Pessoa, através de seu heterônimo (o alter ego) Bernardo Soares. Sim, bem o dizes. É bom observar as mensagens subjacentes ao texto, ainda mais quando o texto se destina às crianças. Pouco entendo desses aspectos, é coisa para especialistas, como os pedagogos.Escreve. Deixa que os outros falem sobre tua criação, em prosa e verso. Nunca fala sobre ti mesmo, e, se tiveres pressionado a isso, faze-o pelos teus personagens. O leitor não quer CONCORRENTE, e sim, fruir, rir, ficar íntimo, e sempre achar algo para criticar alguns dos categóricos personagens que crias. Essa intimidade psíquica é que faz com que ele fique preso a ti como fazedor de histórias. Enquanto isso não acontecer, tu – autor – serás apenas um incidental de lazer e hábitos feito palavra. No entanto, se ocupares os neurônios do leitor, ele será teu, tão próximo como os dedos sobre o teclado da máquina, que cria e fala por ti. Sim, por certo, cachaçaremos o bom trago e matearemos o chimarrão da aliança, mais e mais, na medida em que fiquemos ávidos do NOVO e do gosto bom da novidade que este representa. A intimidade procria pela experimentação...

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/3310037
A HORA MORTA DA LEITURA VIVA

Joaquim Moncks

Estimada confreira de Letras! Ainda bem que recebeste bem o estudo analítico sobre o teu texto. Agora é necessário que o estudes, tim-tim por tim-tim, comparando a forma sugerida, inclusive, também, com uma olhadela crítica sobre a segunda forma textual, que acabei melhorando para chegar à (possivelmente) definitiva. No fazer literário – em minha ótica – o texto nunca está definitivamente pronto, mesmo depois de haver ocorrido a publicação em jornais, revistas, coletâneas, em antologias (cujos organizadores elegem alguns textos como pretensamente definitivos) até nos livros individuais, sempre fico a cinzelar o texto, principalmente revisando e aparando verbos, evitando duplicidade de vocábulos, tentando sempre a sinonímia pra evitar repetições, cuidando, em especial do RITMO, tanto na prosa quanto no verso.

Porém, é na poesia e a sua escrituração (que são os versos que lhe dão forma, sentido e expressão), que a TRANSPIRAÇÃO – o segundo momento de criação – se torna mais necessária e urgente pra se descobrir o Belo contido dentro da palavra e seus mistérios. Na Poesia, a palavra usa sua roupagem de gala, que não é a do dia-a-dia, a vestimenta da lida diária. Daí que, após o primeiro momento de criação – A INSPIRAÇÃO – em que predomina a EMOÇÃO, tem-se de buscar a prevalência da INTELECÇÃO, o que ocorre no segundo momento criacional e em outros que eventualmente podem sobrevir, no decurso do tempo de maturação do escrito.

Como vês, interessada confreira, nós estamos apenas começando a caminhada para as possíveis descobertas... Juntos. Eu – ávido – sobre a tua escrita. Tu – ansiosa – sobre a minha. É dessa prática que poderão advir resultados favoráveis ao surgimento de teu ESTILO, segredo de quem pratica a sua arte, mormente a literária.

É preciso que não tenhas pressa nem preguiça pra leres e absorveres tudo o mais que puderes, nesses primeiros momentos, ainda mais que tens um ano a mais do que a minha idade. E, aos quase setenta, o tempo foge mais rápido...

Eu estou inativo há mais de 20 anos no meu ofício na força de trabalho, e que me garante estipêndios para a digna sobrevivência. O FAZER LITERÁRIO é o meu novo ofício (deixando de ser mero diletante) desde sempre, pois iniciei a escrever com afinco lá pelos 26 anos. Hoje estou com sessenta e cinco. A maturação e o adensamento de assuntos e conteúdos, em nossa criação, é fato que se percebe, em regra, lá pelos 12/15 anos de experimentação. Horácio, o príncipe dos poetas latinos, que viveu 70 anos e morreu 08 anos depois da execução do Cristo, dizia que boa escrita artística leva, no mínimo, nove anos para se fazer sentir ao leitor. Até então tudo é diletantismo. Nesse tempo, o escrito deveria ficar na gaveta, amadurecendo...

Observei que fazes uma referência incidental sobre os meus textos e os sacramentas como "enormes". Imagino que te refiras à extensão textual. Sim, algumas publicações são longas, e será necessário que as leias com atenção, a fim de que conheças um pouco do teu companheiro de estrada e descubras os meus códigos de abordagens temáticas. E que haja compreensão para que possas vir a ser apresentada aos “alter egos” que me habitam.

Para que tenhas uma ideia, levei mais de dez anos para abrir os códigos de um poeta de minha preferência, no RS, lá por 1980/3. Agora, calejado, fica mais fácil entender a sua subjacência poética. Na fase atual, mesmo que pouco haja mudado em seu estilo de escrever, já consigo me situar melhor em sua extensa obra. O mesmo aconteceu em mim com o desdobramento da obra de Pablo Neruda, se bem que com menores dificuldades, visto que sua obra, em prosa e verso, é menos codificada. E Poesia necessita revelar-se ao receptor. Cada uma a vê de uma maneira, graças aos códigos verbais utilizados. E é essa sensação de estranhamento, de alumbramento frente ao Novo, que nos marca a pele como fora um ferro em brasa. Uma tatuagem definitiva...

Desta sorte, cada dia vai lendo, no Recanto das Letras – site onde escrevemos – os meus textos classificados como TEORIA LITERÁRIA, TUTORIAIS, CARTAS, MENSAGENS, ENSAIOS, PENSAMENTOS. Imagino que seria aconselhável que fizesses as leituras por modalidade classificatória, na ordem em que elenquei as classificações, conforme acima.

Seria importante, também, que a cada um examinado e fruído, escrevesses algum comentário ao pé do texto lido, pra que eu veja e acompanhe o teu crescimento individual nas abordagens e, possivelmente, tenhamos algumas palavras a serem trocadas ao pé dos textos lá publicados, em 'Comentários', respondendo ou abordando aquilo que tenha sido expendido sobre o texto lido e analisado por ti.

Sim, é trabalho para se chegar perto da condição de bom escriba... Por ora, é só o aquecimento pela net, Ok? Se tudo correr como espero, poderei também te ajudar na escolha de livros para que possamos vir a nos orientar na hora morta da leitura viva...

– Do livro PALAVRA & DIVERSIDADE, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3324201
O FERRO EM BRASA

Joaquim Moncks

O escrito poético necessita revelar-se ao receptor. Cada qual vê a Poesia de maneira diferenciada, graças aos códigos verbais utilizados pelo autor e o estágio de aprimoramento à recepção. É aquela sensação de estranhamento que nos absorve frente à peça bafejada pelo Novo, amoroso ou crítico, todavia sempre lírico. Uma visceral sutileza verbal que nos marca a pele como fora um ferro em brasa. Plausível alumbramento que carregaremos pela vida em fora, como fora a repetição do fato real dentro de nós: suas seqüelas de perdições. Tatuagem permanente.

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/3324512