Joaquim Moncks
Carretas, rondas do tempo
maniáticas de sóis e lunaréus.
Carregam estafas e andanças
e em mim a outrora criança:
ressoam cirandas e danças
e o gemido de liberdade
ecoa nas veredas da serra.
Nave do nauta telúrico,
rancho sobre duas luas,
gêmea de pampas, estrelas e léus,
roçando várzeas, lançantes,
traçando esta cíclica gesta
de esperanças, trabalho e terra.
Nas lonjuras dos caminhos,
sofrendo encruzilhadas e escarcéus,
arremataste ao gaúcho
verdades abertas no céu.
– Do livro DE QUANDO O CORAÇÃO ABRE A CORDEONA, 1978/2009.
http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/35924
domingo, 20 de setembro de 2009
CARRETA DE INOCÊNCIAS
Joaquim Moncks
O canto de meus amores
é uma carreta perdida.
Cada eixo de ilusões
cochicha a canção ao vento.
Geme a garganta dos sonhos
e é um sussurro de estrelas
gemendo na boca do Cristo
– sua coroa de espinhos.
Toda a vez, meus irmãos,
em que a carreta dos ventos
chora o cio dos amores,
delato a santa inocência.
Há um sorriso futuro
que se perdeu num lançante
e num lampejo insolente,
frustrou-se a coruja do brete.
Ainda hoje os amores
são perdidos espíritos.
S’esconde no final do mate
a seiva da liberdade.
Esta canção resistente
é a que me faz sentir vivo.
É o olho do tempo rodando
n’alguma esquecida quimera.
Sempre que olho o horizonte
range o rancho sobre duas luas
e na picanha do boi Suspiro
sangra o aguilhão da saudade.
– Do livro DE QUANDO O CORAÇÃO ABRE A CORDEONA, 1978/2009.
http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/847638
LAMPEJOS DE PRIMAVERA
Joaquim Moncks
Aqui, na foz do Rio Mampituba, novo dia bonito, sem vento, com o mar sonolento. A aldeia ressona recolhida aos lençóis.
De quando em vez, a massa líquida se espreguiça e se retorce feito uma imensa lagartixa. Lânguida e esquiva.
A refração do sol cria um lençol de brilhos. Ainda ressonariam ali dorminhocas estrelas?
Algumas tainhas rebrilham o lombo à luz multicor. Parecem borboletas sobre um lençol tinto de liquens.
As retinas, extasiadas, bebem o espetáculo.
– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/2009.
http://recantodasletras.uol.com.br/prosapoetica/1773478
Aqui, na foz do Rio Mampituba, novo dia bonito, sem vento, com o mar sonolento. A aldeia ressona recolhida aos lençóis.
De quando em vez, a massa líquida se espreguiça e se retorce feito uma imensa lagartixa. Lânguida e esquiva.
A refração do sol cria um lençol de brilhos. Ainda ressonariam ali dorminhocas estrelas?
Algumas tainhas rebrilham o lombo à luz multicor. Parecem borboletas sobre um lençol tinto de liquens.
As retinas, extasiadas, bebem o espetáculo.
– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/2009.
http://recantodasletras.uol.com.br/prosapoetica/1773478
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