terça-feira, 8 de novembro de 2011

A CRÍTICA SEGUNDO O AUTOR NOVATO

Joaquim Moncks

Recebo, com alegria, esta interessante mensagem de uma confreira do Recanto das Letras sobre temática que me parece relevante a merece uma reflexão mais funda. Resguardo o nome da interlocutora para evitar mal-entendidos.

“Caro escritor, já tive a oportunidade de ler alguns comentários seus em textos de outros recantistas, e lhe digo que a força de suas palavras, duras e incisivas, me retiram lágrimas. Bom, eu as enxuguei e queria dizer-lhe que, caso um dia você tenha um tempinho e paciência, me sentiria honrada em passar pelo fio de sua navalha. Melhor a dor a sangre frio que passar a vida recebendo pomada anestésica. Ninguém evolui apenas com tapinhas nas costas. Obrigada.”.

– via e-mail pelo site do Recanto, em 27/10/2011.

Causa-me alguma estranheza que alguém se emocione até as lágrimas com uma colocação de análise crítica, ou seja, do mesmo eito ou similar “sentir” de quem lê uma peça poética – em que há a participação da emocionalidade – e daí se pode, naturalmente, entender a origem da contingência capaz de causar a emoção. Porque uma das funções da POESIA é emocionar o receptor. A crítica literária é fruto de análise racional sobre uma proposta emocional – especialmente em textos de iniciantes ou novatos – porque estes ainda se encontram no período em que estão à busca dos elementos estéticos frutos da INTUIÇÃO para confeccionar o conjunto de versos que dará origem ao POEMA... São os NOVE ANOS que Horácio, na antiguidade, dizia que era “para guardar o poema na gaveta”, esperando a sua maturação, para, então, PUBLICÁ-LO... Nesse momento de descobertas das nuances no processo de criação e o seu entorno, o analisado nem consegue ver a análise crítica como ação intelectiva que lhe possa fazer crescer... Neste período inicial, para pessoas muito sensíveis, a Crítica pouco poderá ajudar, até porque o autor não se dará conta de que, mormente no gênero Poesia, não é o EGO quem escreve, e, sim o seu ALTER EGO... E essa linguagem detalhista e metodológica o iniciante ainda não percebeu nem a introjetou, porque simplesmente a desconhece. Fica, apenas, embasbacado com o tal processo de criação poética que lhe produz sensações muito agradáveis, de uma magia prazerosa. Tudo é novo quando se começa a descobrir o mistério das Palavras... Eventual dureza e incisividade nos juízos críticos não são exercitadas com base na Emoção. Em geral, no receptor do estudo crítico – o trabalho técnico sobre a sua peça poética ou prosaica – os juízos analíticos emitidos por quem cumpre o ofício de escritor são entendidos como uma afronta ou interferência no processo pessoal de criação e inventiva, e, usualmente, provocam certa desconfiança ou são pouco considerados. Todavia, daí até provocar o nascimento da “lágrima”, vai uma grande distância. Denota, denuncia e escancara que o criticado é apenas um diletante que escreve para alimentar o EGO e não para a celebração da CONFRATERNIDADE entre os de similar concepção do mundo e de condenação ao pensar. A crítica literária será útil para quem já passou por essa etapa primária do EGO e da necessária chamada de atenção para si como vetor de compulsão criacional ou, ainda, que se utiliza da criação literária como terapia psíquica individual ou grupal, no caso de associação ou grupos literários, objetivando comportamentos variados dos sujeitos envolvidos no processo da Arte X Realidade. Porém, nesse caso específico, o agente propulsor – que funciona como ANTÍTESE – impulsionando a criação e/ou a ação comportamental é o TERAPEUTA e não o OFICINEIRO DE POESIA, como é a minha função no processo. Ou seja, aquele que atua na estimulação da produção do texto em Poesia. A estética do Belo se dá pelo aprimoramento dos elementos que a fazer fluir. A provocação ou a instigação crítica não se confunde com o gesto negligente do “tapinha nas costas”, passivo e cúmplice. Isso é verdadeiro, como bem colocou a missivista... Todavia, este provocar não pode ser tão tétrico a ponto de “passar o autor no fio da navalha”... No processo de aprimoramento literário, a lisonja e a conivência não são métodos propícios ao aprimoramento dos canteiros dos jardins do Belo. Também não é menos verdade que “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”, como fala a sabedoria popular. E essas advertências aplicam-se ao crítico e criticado. E os textos vão, também, amadurecendo para a recepção da ação analítica... Até mesmo quando ainda não tenham nove anos de concepção a fim de poderem voar para além da gaveta...

– Do livro PALAVRA & DIVERSIDADE, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3302490

Nenhum comentário:

Postar um comentário