terça-feira, 8 de novembro de 2011

A INTIMIDADE NOS PERSONAGENS

Joaquim Moncks

Professor, além do comentário que publiquei junto ao texto, gostaria de agradecer sinceramente a postagem do seu trabalho, em http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/3302490, contendo “A CRÍTICA SEGUNDO O AUTOR NOVATO”. Aprecio muito a área da literatura Infantil, por isso em meus contos infantis tento trabalhar com as perspectiva da psicologia. Suas palavras me fizeram refletir sobre meu alter ego, ou seja, quais são as mensagens, os valores que implicitamente estou enviando as crianças. Será que nos textos transcrevo valores meus de forma autoritária sob a forma da ditadura das letrinhas pequenas, ao ponto que uma criança tome como verdade algo que poderá não ser o correto, ou seja, a minha verdade? Eu realmente gostaria que meus contos infantis pudessem ter alguma qualidade literária. Não tenho pretensões de ser cronista, contista (adulto) nem muito menos poetisa. Não tenho talento para a poesia, apenas me arrisco com pequenos versos infantis. Essas palavras são maiores e merecem respeito! Rsrsrs. Não que os escritores de livros infantis tenham menor importância, ao contrário. As crianças são leitores com os quais devemos ter muito mais tino, maior sensibilidade em abordar-lhes temáticas porque elas absorvem as palavras como verdades. Bom, professor, hei de ter paciência e sapiência para que a minha cachaça adquira coloração e amadurecimento próprios ao consumo e ao sabor. Obrigada, abraços.

– via e-mail em 28 de outubro de 2011,16h32min. A pedido da missivista, retirei o nome da mesma.

Amada confreira! Já deves ter visto que não me aproprio do vocábulo "professor", pois que viria a ser um esbulho e uma temeridade, visto que tenho, apenas, a ótica do veterano escriba, nada mais. Minha formação é no Direito. Funciono somente como um provocador... Fiquei feliz por haver te instigado à reflexão sobre a condição humana e os seus aspectos psicológicos. Cuida bem de ti, conhece-te mais e mais, e perceberás – clarificadamente – as nuanças originárias de tuas personalidades, imbricadas nos mistérios do EGO e ALTER EGO. Também gosto muito de literatura infantil e mais aprecio, ainda, os autores que a elaboram. São ativistas no esforço de formar leitores, num país que lê diminutamente... As crianças merecem mais do que a nossa geração obteve. Ainda mais agora, com a net, que lhes parece despertar impulsos de comunicação e criam até o seu próprio dialeto de comunicação na Grande Rede: o internetês. Sim, é necessário que o escritor não fuja da condenação ao pensar e à sina de escrever e tenha pretensões ao sucesso... Obrigado por tua contribuição aos meus demônios/anjos escribas. Deste-me o azo de falar com desenvoltura sobre o que observo em tua lavratura, mesmo não te conhecendo mais fundamente como autora, até porque tens poucos textos publicados fora da modalidade CONTOS, sendo que a minha praia é o gênero poético... Quem me fala de ti são os teus personagens, por mais que os recubras com o véu sub-reptício dos signos traduzidos por palavras. Creio que te proteges do intimismo, a fim de que sejamos intelectualmente entendíveis. E, se analisarmos a POESIA, como expressão, iremos constatar que isto ocorre em todo momento: é uma bela maneira de falarmos do EGO sem maiores delongas. “Todo o poeta é um fingidor...”, já disse o grande Fernando Pessoa, através de seu heterônimo (o alter ego) Bernardo Soares. Sim, bem o dizes. É bom observar as mensagens subjacentes ao texto, ainda mais quando o texto se destina às crianças. Pouco entendo desses aspectos, é coisa para especialistas, como os pedagogos.Escreve. Deixa que os outros falem sobre tua criação, em prosa e verso. Nunca fala sobre ti mesmo, e, se tiveres pressionado a isso, faze-o pelos teus personagens. O leitor não quer CONCORRENTE, e sim, fruir, rir, ficar íntimo, e sempre achar algo para criticar alguns dos categóricos personagens que crias. Essa intimidade psíquica é que faz com que ele fique preso a ti como fazedor de histórias. Enquanto isso não acontecer, tu – autor – serás apenas um incidental de lazer e hábitos feito palavra. No entanto, se ocupares os neurônios do leitor, ele será teu, tão próximo como os dedos sobre o teclado da máquina, que cria e fala por ti. Sim, por certo, cachaçaremos o bom trago e matearemos o chimarrão da aliança, mais e mais, na medida em que fiquemos ávidos do NOVO e do gosto bom da novidade que este representa. A intimidade procria pela experimentação...

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.
http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/3310037

Nenhum comentário:

Postar um comentário